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A mostrar mensagens de 2021

Ténue a diferença entre as dores de alma e física

MCFernandes Dores traz-mas o vento E quando não mas traz eu as invento Daí, ficar atento Pensar que talvez Sem mais porquês Em esteira psiquiátrica Consiga saber Se entre o fígado e a ciática A dor que sinto é dor traumática  

DESTINADO A QUEM NÃO SE DESTINA

MCFernandes Com dedos de água Propus-te o reacender Da propulsão dos sentidos Elevando-os do sepulcro fendido por preconceitos Recusaste Preferiste estiolar sem a seiva fervente Congelando iminente incêndio do desejo Impedindo-o de deflagrar por vasos, veias, atérias Aprisionado a fria imagem espelhada  

UM AVÔ, COMO TANTOS AVÓS

  Foto Net / MCFernandes No clarão da manhã meu avô sentado  Tece destinos inalcansáveis  Sedentário, frágil de forças  Apenas pode alcançar destinos já percorridos  Pelos quais jazem todas as flores que resplandeceram nas suas  caminhadas  Mesmo assim, meu avô adoça sal cristalizado em seus olhos  E tenta olhar para os vales e colinas da sua infância  Porém, altos edifícios impedem sua visão  Cortinados impenetráveis à sua recriação A custo levanta-se. Espreita pela janela  Ainda lhe sobra o tecto que franqueia o cadeado da sua prisão:  O imaculado céu azul  Sirvo-lhe com afecto o pequeno almoço  Num olhar embaciado de tristeza  Desenha na boca sorriso de gratidão  Pergunto-me sem atrever resposta:  Se um dia chegar à idade do meu avô  Poderei alongar meus olhos até aos lírios da minha infância?

JAQUIM MANHOLAS NÃO VAI EM TOURADAS

   Jaquim Manholas  Vigia os touros  Em tempos idos  Do patrão louros  Para tantas touradas  Partiram manadas   Distanciado  Dos que afirmam cultura  A um acto animal  Que animal tortura  Chama o Besouro  Touro estimado  Com festinhas no focinho  Diz-lhe: estou do teu lado  

PELA VIELA

                                                                         MCFernandes Pela viela Soa uma guitarra Aperto a samarra Para amarrar o frio De um coração tão vazio No retiro De negro a cantadeira Fado palavra certeira Que abraça a saudade Da tristeza que me invade Retorno pela viela  Barco vazio sem vela  Apenas  gaivota Tejo luar E um fado que fez sangrar Ferida aberta por sarar  

SÓ PELO PRAZER DE MATAR

MCFernandes Aveludada pata de elefante calca o coração da terra Pesado, monstruoso, o dedo que puxa o gatilho Troféus de sangue Na galeria de egos sedentos, insensíveis, soberbos, boçais Incapazes de pôr na mira o respeito fraternal pela Natureza  

ASSIM VAI O MUNDO ( de carro ou como?)

Imagem e poema de MCFernandes Nem o Pio de coruja é soturno Nem o adágio de Albinoni é pródigo de alegria Apenas simbiose de conveniências No limbo de entretenimento vazio, pueril e de encanto Tudo depende de como o sentimento traja na altura Qual padeiro amasso palavras de lava ou de gelo Levando-as depois ao forno da consciência   Eu sei. Sei porque quiz reparar que a jovem Marta  Vizinha do quinto andar Cozinheira envelhecida pela canga da família aos ombros Parte de casa pela madrugada e regressa à noite Sob o véu da obscuridade que lhe dissipa frontais traços de cansaço Dela não sobram notícias Apenas as que hoje faço soar Contrariamente, fulana X, namorada de alguém famoso É propalada  nos canais TV em hora de ponta Porque em convés de luxuoso iate De entre ledos convivas exibe seios doirados  Naturais ou cirurgicamente moldados Pela fulana X as TVs se digladiam ou se babam para a anunciarem E eu acho  enorme piada  Quando  o  apresentador proclama em tom solene: ASSIM VAI O MUND

A MINHA ENTIDADE SUPERIOR

                                                                                                           Manuel Correia Fernandes A minha entidade superior É o meu pensamento Em estado florido  

EM PAZ, LIVRES, SEM GAIOLAS

                                                                                                 Foto Net Amor Por que os pássaros de tão livres  Não voam das nuvens para o céu? Talvez por não sentirem espadas no seu destino Ferindo o voo dos seus sonhos Amor Como eu gostaria que fôssemos como os pássaros Para voarmos em paz, livres, sem gaiolas

VIVINHA ESTÁ MINHA AVÓ

Foto Net Poema de Manuel Correia Fernandes Tomado o pequeno almoço  despede-se da aurora de passeio ao infinito Mira-se ao espelho olhos de águia  brilham das cavernas da idade Com dedos de seda alinha pontas de cabelo Nas maçãs do rosto toque de blush com saltito ao passado à idade do pó-de-arroz Toque de batom faz emergir desenho de boca desmaiada por beijos já vencidos Mira-se de perfil à direita, muito bem; à esquerda, melhor ainda Sorri acha-se a mulher mais catita do mundo sem hesitações proclama: VELHOS SÃO OS TRAPOS  

MEU PENSAMENTO

                                               Foto Net, Poema de Manuel Correia Fernandes Meu pensamento como os pássaros que voam Meu pensamento como as estrelas que brilham Meu pensamento num coração enorme Meu pensamento na paz de bebé que dorme Meu pensamento tão alvo tão puro mas tão imaturo para o amor que chegou mil sonhos arquitectou Temo meu pensamento que para tantos desvelos uma aurora dourada seja raiada de pesadelos

A MARCHA DO TEMPO É INEXORÁVEL

   Foto Net Poema de MCFernandes A marcha do tempo É inexorável Por mais que tentemos Torná-la agradável Olhamos para nós Quanta inquietude Pelo divórcio da juventude? E na pele a marca d’água Por cada ilusão Pintada de mágoa Visível Invisível Nosso estado No coração tatuado

PELOS CAMPOS EM FLOR

                                    Em teus dedos, delicadeza                                     Em delicada flor                                     Dão mais brilho à beleza                                     Que rompe em seu esplendor  

A GAIVOTA E O PORCO

                                         Foto Net                                                                                                     Neste mundo tão agitado                                                      Anda tudo marefado                                                       Sem tempo pró surreal                                                       Subia ao Príncipe  Real                                                       Desprendido de garrote                                                       Talvez com alguma sorte                                                       Vi jovem de trotineta                                                       E um porco de bicicleta                                                                                              Não fiquei abismado                                                       Nada me deix’espantado                                                       Faz temp’em ilha remota                        

AGORA NÃO SEI

Aquecíamos os pés, tu e eu Em noite gelada, em noite de breu Nossos pés se tocaram Dentro de nós calor intenso E agora não sei Se pertenço à noite Se a ti pertenço              

ENTRE A ÚLTIMA LÁGRIMA

                                                                                                              Autor M.C.Fernandes                                                                                                               Foto de Matt Hardy                                                                              Um dia Quando a Terra parar A atmosfera rarear O último que ficar Dirá: Meu Deus, se for homem de fé O que fizemos? se for ateu Entre a última lágrima Lembrará mãe e pai Filhos, família Lembrará vitórias e derrotas Amigos de escola Quem o acompanhou vida fora Lembrará emoções então desvanecidas O aroma das árvores entre estações Cânticos do rouxinol e da toutinegra real Ao raiar e cair do Sol Lembrará seu primeiro emprego Seu primeiro beijo Seu melhor filme E partirá resignado com a  As Time Goês By Canção do filme Casablanca Ao partir definitivamente Instante, antes, do discutido túnel escuro ou luminoso Sentirá a mão do seu primeiro amor apertar a sua  

SE VIERES VESTIDO DE SILÊNCIO POR FAVOR NÃO VENHAS

  Foto de Elina Krima Se vieres vestido de silêncio, não venhas O silêncio entre amantes é uma violência subtil  Geradora de vazios e distanciamentos irrecuperáveis Se vieres vestido de silêncio Por favor não venhas Prefiro continuar amparada nos braço da solidão  Manuel Correia Fernandes