UM AVÔ, COMO TANTOS AVÓS
No clarão da manhã meu avô sentado
Tece destinos inalcansáveis
Sedentário, frágil de forças
Apenas pode alcançar destinos já percorridos
Pelos quais jazem todas as flores que resplandeceram nas suas caminhadas
Mesmo assim, meu avô adoça sal cristalizado em seus olhos
E tenta olhar para os vales e colinas da sua infância
Porém, altos edifícios impedem sua visão
Cortinados impenetráveis à sua recriação
A custo levanta-se. Espreita pela janela
Ainda lhe sobra o tecto que franqueia o cadeado da sua prisão:
O imaculado céu azul
Sirvo-lhe com afecto o pequeno almoço
Num olhar embaciado de tristeza
Desenha na boca sorriso de gratidão
Pergunto-me sem atrever resposta:
Se um dia chegar à idade do meu avô
Poderei alongar meus olhos até aos lírios da minha infância?
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