UM AVÔ, COMO TANTOS AVÓS

Foto Net / MCFernandes No clarão da manhã meu avô sentado Tece destinos inalcansáveis Sedentário, frágil de forças Apenas pode alcançar destinos já percorridos Pelos quais jazem todas as flores que resplandeceram nas suas caminhadas Mesmo assim, meu avô adoça sal cristalizado em seus olhos E tenta olhar para os vales e colinas da sua infância Porém, altos edifícios impedem sua visão Cortinados impenetráveis à sua recriação A custo levanta-se. Espreita pela janela Ainda lhe sobra o tecto que franqueia o cadeado da sua prisão: O imaculado céu azul Sirvo-lhe com afecto o pequeno almoço Num olhar embaciado de tristeza Desenha na boca sorriso de gratidão Pergunto-me sem atrever resposta: Se um dia chegar à idade do meu avô Poderei alongar meus olhos até aos lírios da minha infância?