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A mostrar mensagens de outubro 17, 2021

UM AVÔ, COMO TANTOS AVÓS

  Foto Net / MCFernandes No clarão da manhã meu avô sentado  Tece destinos inalcansáveis  Sedentário, frágil de forças  Apenas pode alcançar destinos já percorridos  Pelos quais jazem todas as flores que resplandeceram nas suas  caminhadas  Mesmo assim, meu avô adoça sal cristalizado em seus olhos  E tenta olhar para os vales e colinas da sua infância  Porém, altos edifícios impedem sua visão  Cortinados impenetráveis à sua recriação A custo levanta-se. Espreita pela janela  Ainda lhe sobra o tecto que franqueia o cadeado da sua prisão:  O imaculado céu azul  Sirvo-lhe com afecto o pequeno almoço  Num olhar embaciado de tristeza  Desenha na boca sorriso de gratidão  Pergunto-me sem atrever resposta:  Se um dia chegar à idade do meu avô  Poderei alongar meus olhos até aos lírios da minha infância?