POR UNA CABEZA (Inspirado no tango homônimo de Carlos Gardel)


Foto Net/Poema de MCFernandes



Placidamente apresenta-se o sol matinal
Tudo resplandece na minha querida Buenos Aires
No vidro frio da janela, em meu bafo escrevo-lhe: ADIOS
Em breve a justiça soará em minha porta
E tudo, oh maldição, por una cabeza !

Frente ao espelho revejo-me precocemente decrépito
Barba de sem abrigo, olhos afundados, lábios gretados de fracasso
Pergunto-me: o que é feito daquele admirável contabilista
reverenciado ou despeitado pela sua competência?
O que é feito daquele homem esbelto granjeador de amores e ciúmes?

De tantas mulheres da minha constelação vivencial
logo o destino destinar-me-ia a estrela cadente da minha ruína
Nos seus olhos ímpares, verde-indefinido, enleantes
nos seus lábios carnudos, intumescidos de lascívia, eu me perdi
Fui seduzido por joia rara e cara
só possível de amar e preservar em leito de diamantes

Depois, na longa loucura de estroinice
entre noites e dias a taças de champanhe e tangos
em nights clubs dos mais chiques da minha Buenos Aires
onde abraços alternei, pernas cruzei e o corpo inflamado nela colei
ao som de lamentos de violinos e choros de bandoneónes
desbaratei o que era e não era meu!

Quando a fria realidade me acossou, vi-me à beira do abismo
A desonra por desfalque pairava no ar
Qual náufrago à espera de resgate
minha boia era uma das éguas favoritas à vitória
Na esperança da redenção nela apostei
tudo o que me restava e muito do que não me pertencia
Mas, oh maldição!
Por una cabeza, apenas por una cabeza, tudo perdi!

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