À PEQUENA DISTÂNCIA DE UM DEGRAU
SÍNDROME DE ASPERGER
Mamã, mamã
Quanto feliz eu fui inscrito no teu ventre
Em tua linfa amniótica, tépida maternal
Aperfeiçoado de semente a flor
Qual nenúfar em lago de afectos
Flutuei, dancei, sonhei...
Que estreita relação era a nossa, querida mamã
Só pelo rufar do teu coração
Eu sabia-te triste ou alegre
Cheguei depois ao teu mundo que não compreendo
E onde não me faço compreender
Entre ti e mim, mamã
Há uma barreira a separar-nos
Eu sei que me amas
Mas não se me chega o teu afecto
E o tanto que te quero
Não consigo fazer-te chegar
Às vezes sinto-me pássaro
Mas quando pretendo voar
Há sempre uma gaiola invisível a impedir-me
Não sei como explicar
A ti e aos outros, mamã
Que sinto, que sofro, que penso
Que sou semelhante-diferente
E que ao mundo que habito
Lhe falta luz, flores e poesia
Creio que não comunicamos
Por me encontrar noutra dimensão
À pequena distância de um degrau
Talvez um dia, quem sabe, querida mamã
Tu consigas subi-lo ou eu descê-lo
Manuel Correia Fernandes
Comentários
Enviar um comentário